(UFPR 2025) Considere as seguintes afirmativas:
Questões de Linguagens na UFPR 2025
O texto a seguir é referência para as questões 55 a 58.
Tragédia no RS apaga pessoas negras e escancara racismo ambiental
No início dos anos 2000, viajei a Mato Grosso do Sul para participar de um evento universitário. Lembro que na época eu causei espanto em alguns participantes ao dizer que eu era de Porto Alegre. A surpresa vinha acompanhada de um questionamento: “Não sabia que tinha negros no Rio Grande Sul”. Ao longo dos anos experimentei essa reação diversas vezes, em contextos e lugares diferentes.
Essa percepção faz parte de um senso comum bastante arraigado no Brasil, e é fruto de um projeto de embranquecimento e apagamento das comunidades negras no estado. Um projeto bem-sucedido que há séculos invisibiliza não só a presença de pessoas negras, como também sua contribuição crucial na construção do estado.
O imaginário popular é este: o Rio Grande do Sul é branco, constituído por uma grande colônia alemã, de ares europeus, lugar em que os moradores nem falam português. Um estereótipo que é reforçado pelas imagens dos municípios como Gramado e Canela, com seus chalés, fábricas de chocolates, vinhos e cafés coloniais.
Obviamente que existe uma inegável contribuição da colonização europeia na formação do estado, no entanto, o que se coloca aqui é a supervalorização dessa cultura e o apagamento de outras.
Segundo dados do próprio governo do estado, o Rio Grande do Sul tem uma população negra de 21%. Os levantamentos também mostram que os negros são os mais pobres, ganham salários mais baixos e têm menos acesso à educação e à saúde quando comparados aos brancos. Além disso, a representatividade na política é pequena: apenas na última eleição foi eleita a primeira bancada negra de Porto Alegre.
As enchentes no Rio Grande do Sul revelam a existência de uma segregação racial no estado. A tragédia atingiu de maneira significativa a região metropolitana de Porto Alegre, por exemplo, um lugar onde reside grande parte da população negra e periférica.
Portanto, são comunidades inteiras pertencentes a uma classe operária, que ocupam áreas de risco e que estão propensas a serem as primeiras vítimas das catástrofes climáticas.
Não se pode falar em reconstrução de um estado sem levar em consideração os efeitos do racismo ambiental. A reconstrução deve se dar num contexto compreendendo que, historicamente, as comunidades periféricas, negras, quilombolas e indígenas não tiveram acesso a serviços básicos como saneamento, água potável, luz, acesso à internet, saúde e educação de qualidade.
As enchentes escancararam o racismo ambiental, portanto, será preciso dar atenção ainda maior às desigualdades raciais para uma reconstrução justa e humana.
Disponível em: https://www.geledes.org.br/tragedia-no-rs-apaga-pessoas-negras-e-escancara-racismo-ambiental. Adaptado.
57. (UFPR 2025) Considere as seguintes afirmativas:
1. As condições sociais da periferia de Porto Alegre foram a principal causa das enchentes.
2. A população negra do Rio Grande do Sul forma a maior parte da população do estado.
3. A reconstrução humana e justa do Rio Grande do Sul poderá combater o racismo ambiental.
4. O autor do texto não sabia que havia negros no Rio Grande do Sul.
Assinale a alternativa correta.
- Somente a afirmativa 3 é verdadeira.
- Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.
- Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.
- Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.
- As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.
Resposta: A
Resolução: A afirmativa 3 é verdadeira, pois o texto argumenta que uma reconstrução justa e humana deve combater o racismo ambiental. - As afirmativas 1 e 2 são incorretas: as enchentes não foram causadas diretamente pelas condições sociais da periferia, e a população negra representa 21% da população do estado, segundo os dados mencionados.